Nos passos de São Sebastião

Muito axé, alegria e devoção ao santo que cura as doenças, afasta os males e glorifica a vida: São Sebastião.Com os pedidos feitos e as fitas coloridas amarradas no “Tiãozinho”, os devotos e devotas percorreram durante uma semana, os sete locais que abrigaram o santo. Esse já é o segundo ano seguido que centenas de pessoas, entre  religiosas e fiéis  de matriz africanas e católicos se juntam na peregrinação. A caminhada que começou dia 14 na residência da devota e agente cultural Catarina Ribeiro no distrito de Santa Cecília, encerrou no dia 20 de janeiro com o Santinho voltando para a Casa. 

 As caminhadas tem a liderança da comunidade Ilê Axé Oba de Alaguinan, na pessoa da sacerdotisa Yatylyssá Lefan. Segundo ela, o santo é uma herança do seu Pai de Santo, o paraense Orlando Bassú, o São Sebastião Peregrino.

 “Pega, ai Yatylyssá, agora a missão é sua, cuida bem do Santinho que é herança do meu Pai” é a frase que soa como mensagem de força,fé e devoção.  “Em 2023 fizemos a primeira peregrinação.Me senti insegura, mas tive apoio da minha Casa, do Roda de Prosa e das Casas que aderiram a peregrinação: Abassa D’Angola Tatá Bòkúlê, Centro de Umbanda Tambor de Luz, Ilê Axe D’ Kavullekin”, diz encantada Yatylyssá.

Para Táta´Bokule, receber São Sebastiaõ na sua casa é de uma grande importancia, pois trás lembranças. “Pois identificamos no sincretismo Xapanã o Santo da misericordia e da saúde, o Santo protetor dos pobres e doentes. Nossos ancestrais sairam livres da africa e chegaram ao Brasil escravos, e por estratégia tiveram que louvar os Santos Católicos para poder cultivar suas tradições. Mas também existe a generosidade e a inteligência ancestral em perceber nas crenças e práticas do outro, afinidades, como é o caso de São Sebastião com carateríssticas que lembram Obaluaê e Xapanã”, afirma . 

Para Mãe Dora, do Centro de Umbanta Tambor de Luz São José de Ribamar, existe uma mistura de energia e gratidão nos espaços que recebem o santo. “Sou  muita grata por esse presente de receber São Sebastião na minha Casa de Oração. Casa familiar, na minha Comunidade. Essa caminhada é de grande importância porque valoriza a forma que cada um receber demostrando o jeito de cada um praticar sua fé. É maravilhoso iniciar o ano nessa harmonia e na devoção que nos fortalece para seguir a caminhada é como a chama de uma vela que vai acendendo uma  e outra, e outra, para que possamos ser mensageiros de paz e de cura”, afirma emocionada Mãe Dora. 

O professor e pesquisador, Marcos Nogueira, integrante da Rede Roda de Prosa de Culturas Populares e católico pratiante, afirma que ficou surpreso com a forma que aconteceu a peregrinação. “Não tem uma caixinha. É lindo de ver a diversidade de formas de receber o Santo e os devotos. E eu quero agradecer a Mãe Yatylyssá por nos permitir viver momentos de êxtase de pura felicidade com a caminhada espiritual com São Sebastião (Oxóssi). A marca dessa caminhada foi a crença de que é possível (con)viver dentro da circularidade dos saberes, dos afetos e das parcerias contruidas na caminhada”, disse.


Texto: Catarina Ribeiro e Paulo Thadeu Franco Das Neves.

Fotos: Marcos Nogueira.

Postagem: Kennedy Daniel Franco Das Neves. 

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