Condizente com a postura de um rato’, Lira abandona Bolsonaro porque já tem a chave do cofre
Fato mais marcante dos atos de campanha realizados pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), no 7 de setembro, foi o absoluto isolamento dele em relação a todas as lideranças institucionais do Brasil, inclusive o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), aliado fundamental para organizar o chamado centrão como base de apoio de Bolsonaro no Congresso.
Esse foi o ponto principal da análise do terceiro episódio da Temporada Eleições do podcast Três por Quatro, série especial sobre eleições do Brasil de Fato, que nesta sexta se debruça sobre os atos do Dia da Independência.
Na avaliação do presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, depois de ganhar a chave do cofre, que no caso é o orçamento secreto, nada mais interessa a Lira.
“É condizente com a postura de um rato. Quando um navio começa a afundar, são os primeiros a pular fora. O Lira eu acho que não aparece mais em evento de campanha do Bolsonaro. Ele vai perder a eleição. Aquilo que ele queria, que era ter a chave do cofre, ter o orçamento da União nas suas mãos, já conseguiu”, analisou Medeiros.
Este terceiro episódio analisa ainda o tom das ruas no bicentenário da Independência do Brasil e a conjuntura para a esquerda na América Latina.
No ato em Brasília, que deveria ser o evento de comemoração dos 200 anos da independência, Bolsonaro estava acompanhado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, da primeira-dama, Michelle Bolsonaro e do empresário Luciano Hang, investigado pela Polícia Federal no inquérito dos atos antidemocráticos.
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Nenhum dos chefes das forças armadas estava presente, bem como os presidentes do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Morais, nem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD). Para Medeiros, Bolsonaro fez um esforço gigantesco para fazer uma demonstração de força e, no fim, “a montanha pariu um rato”.
“Eles jogaram tudo no pacote de bondades, jogaram R$ 90 bilhões na economia, com auxílios, vales. Mas as pesquisas dos últimos dez dias são desesperadoras, ele ainda pode perder a eleição no primeiro turno. Quando ele tem do lado dele aquele imbecil do ‘véio da Havan’ (Hang), que representa o subcapitalismo, a segunda divisão do capitalismo brasileiro, com aquele terno ridículo verde, ao lado do presidente de Portugal, e Bolsonaro acha que isso é uma demonstração de força? Pelo contrário”, afirmou.
João Pedro Stédile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), destacou que o ato comprova a divisão da burguesia e mostra que a classe trabalhadora não adere mais ao discurso de Bolsonaro.
“Foi um retrato da luta de classes no Brasil. E é isso que me deixou mais sereno. O 7 de Setembro não alterou nada na correlação de forças política real. Ao contrário, revelou a burguesia dividida. Quem foi nos atos foi aquela parcela medíocre, aqueles que a Polícia Federal foi na casa. E a classe trabalhadora esteve ausente”, apontou.
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Nitidamente menos cheios do que Bolsonaro e seus aliados gostariam, os atos reuniram 100 mil pessoas em Brasília, segundo a Polícia Militar, cerca de 60 mil pessoas no Rio de Janeiro e 30 mil em São Paulo, de acordo com estimativas dos pesquisadores do Monitor do Debate Político no Meio Digital, ligado à USP.
Movimentos populares também estiveram nas ruas em cerca de 70 cidades, realizando o Grito dos Excluídos, em defesa da democracia, dos direitos humanos e realizando distribuição de alimentos.
Para Stedile, não há que se perder tempo com as provocações e bobagens ditas por Bolsonaro, inclusive, porque a eleição já estaria decidida. E fez um apelo aos eleitores do candidato do PDT, Ciro Gomes.
“A novidade dessa eleição é que o eleitorado já se decidiu. As pesquisas de opinião no último mês rigorosamente estão todas no mesmo patamar. A minha torcida é que os votantes no Ciro, que são pessoas que eu acredito que querem um Brasil melhor, mas seu voto só vai ter consequência política se fizerem um ato de generosidade e se transferirem, já no primeiro turno, para o Lula, para que a gente liquide esse pesadelo o quanto antes”, afirmou.
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História, música e cultura
A nova temporada do podcast Três por Quatro abre espaço também para a música brasileira. O quadro Quem foi que inventou o Brasil fala sobre a história do país por meio da MPB. Inspirada na série de livros com o mesmo nome, de autoria do jornalista e ex-ministro da comunicação Franklin Martins, a atração tem como ponto de partida uma pesquisa minuciosa realizada por ele.
Ao fim de cada transmissão, o time que está no ar compartilha sugestões culturais com a audiência.
O Podcast é apresentado por Nara Lacerda e Igor Carvalho e criado e dirigido por Rodrigo Gomes e Camila Salmazio, que atuam da equipe de jornalismo do Brasil de Fato. Novos episódios são lançados toda sexta-feira pela manhã.
Edição: Rodrigo Gomes