Projeto do Novo Ensino Médio é ‘reprovado’ por professores em congresso do Sinter
VIA: Roraima Na Rede
Depois das críticas feitas ao modelo de militarização das escolas públicas estaduais implantado em Roraima, na manhã de sexta-feira (19 de agosto), durante o XV Congresso do Sinter, no período da tarde foi a vez do projeto de implantação do Novo Ensino Médio e das escolas de tempo integral ser desconstruído pelos profissionais de educação que participam do evento, concluído no último sábado (20).
De acordo com Marta Vanelli, representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o Novo Ensino Médio é “um projeto voltado à formação de mão de obra barata” que tem o objetivo de alijar os jovens de famílias pobres das universidades públicas.
Vanelli disse ter participado de todo o processo de discussão no Congresso Nacional da MP que resultou na Lei 13.415, que institui o Novo Ensino Médio. Ela afirmou ser inaceitável o fato de que a legislação que muda o modelo de ensino ofertado aos jovens brasileiros tenha sido instituída por meio de uma medida provisória. “O projeto de implantação do Novo Ensino Médio é uma bagaceira”, resumiu a sindicalista.
Outra questão levantada no Congresso do Sinter diz respeito ao tipo de formação que vai se exigir do professor para dar conta da carga horária diferenciada que caracteriza o Novo Ensino Médio, cujo objetivo é formar os jovens para o mercado de trabalho. Segundo Vanelli, os professores de disciplinas como português, matemática, geografia, ciências da natureza, sociologia, filosofia, entre outras, acabarão ficando sem espaço nas escolas, quando os alunos tiverem que se dedicar à parte profissionalizante do currículo dessa nova modalidade de ensino.
Também sobraram críticas ao projeto de escola em tempo integral que se pretende implantar no Brasil e em Roraima. Vanelli argumentou que as escolas públicas brasileiras não estão preparadas nem mesmo para oferecer de forma adequada as condições para a prática do ensino regular, que o diga para manter os alunos devidamente acolhidos e alimentados por, no mínimo, sete horas por dia.
“Numa escola de tempo integral o poder público tem que garantir, pelo menos, uma alimentação reforçada para os alunos. E não pode ser aquela alimentação oferecida na merenda escola. Tem que ser almoço e janta”, observou.
Professores de Rorainópolis endossam críticas
Endossando o que disse a representante do CNTE, professores da Escola José de Alencar, de Rorainópolis, já transformada em escola de tempo integral, apontaram várias deficiências vivenciadas pela comunidade escolar. Conforme o depoimento de um dos professores, somente na semana passada os alunos da zona rural começaram a frequentar a escola devido a falta de transporte para trazê-los da zona rural para a sede do município.
“A única função da Escola José de Alencar tem sido alimentar os alunos que, muitas vezes, não têm o que comer em casa”, afirmou. Uma professora e mãe de aluno disse que seu filho se formou em técnico em informática sem nunca ter pisado num laboratório de informática, pois a escola não possui esses equipamentos.
Por sua vez, a professora Márcia Helena Maia de Lima, consultora de Ensino Médio do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) pela SEED, orientou os professores da Escola José de Alencar e das demais que enfrentarem os mesmo problemas a encaminharem suas demandas por meio de requerimentos e relatórios para o gabinete do Secretário de Educação.
“Os profissionais de educação precisam se manifestar para que os gestores públicos possam solucionar os problemas”, disse. Segundo ela, a implantação do Novo Ensino Médio precisa ser feita pelo governo até por força de lei, mas se em algum momento houver a revogação da Lei que obra a implantação do novo modelo de ensino, o governo pode rever a situação.